terça-feira, 1 de novembro de 2011

E as cicatrizes?

Shen: Como encontrou a paz? Eu tirei seus pais de você. Tirei tudo. Eu deixei uma cicatriz incurável.
Po (Panda): A questão é essa Shen. Cicatrizes se curam.
Shen: Não, não se curam. Feridas se curam.
Po (Panda): Tá, e as cicatrizes? Fazem o quê? Somem?! É isso?!
Shen: Não tô nem aí pras cicatrizes.
Po (Panda): Mas devia, Shen. Você tem que deixar o passado pra trás porquê não tem mais importância. A única coisa que importa é quem você vai escolher ser agora.

(Diálogo retirado do filme 'Kung Fu Panda 2')

Pois é, apesar de ter sido retirado de um filme infantil, esse diálogo me chamou a atenção. De um lado Shen tentando entender como, apesar de todos os motivos que tinha, Po havia conseguido encontrar paz interior. Em outras palavras, havia superado seus traumas.
Po continua o diálogo dizendo que cicatrizes se curam, e Shen contra argumenta dizendo que são as feridas que se curam. Então surge a dúvida: 'E as cicatrizes? Fazem o quê?'. Sem nenhuma resposta, Shen ignora o fato das cicatrizes e surge a parte do diálogo que eu mais gosto onde Po fala que o passado deve ser deixado pra trás, porquê não tem mais importância. O que importa é de agora pra frente, o que você escolhe ser a partir de agora.
Com base nisso comecei a pensar: 'Quantas pessoas por aí se deixam ser tomadas por seus traumas, experiências ruins e com base nisso passam a viver o resto da vida, não se desprendem'. Essas pessoas usam como argumento ter vivido uma experiência que as ensinou algo. Mas como usar um argumento desse tipo se quando a situação muda todo o contexto também muda? Como usar uma situação passada para justificar uma escolha presente de contexto desigual? Por isso eu gostei da parte em que o Po fala que isso tem que ser deixado pra trás. Como se fosse não simples né, Vinicius?! Realmente não é. Essas experiências são gravadas em nossas memórias, ferem nosso ego, nossa auto-estima e passam a ser a única referência no futuro, como uma defesa, um escudo. Pra quem acha que isso é habilidade de defesa, de inteligência... cuidado, pode ser uma armadilha. Mas o fato é que você não deve deixar de fazer algo sempre que isso incomodar você, porquê se incomoda é porque ainda dói, se dói é porque a ferida anda aberta. Isso é prisão, é cárcere. Como se libertar disso, então?! Vou tentar parar de argumentar de modo vazio e me atrever (é atrevimento mesmo) a explicar (ou tentar explicar) cientificamente com base em uma teoria chamada 'Psicologia Multifocal'.

Quando alguém tem sua autocrítica e intuição trabalhados essa pessoas consegue explorar melhor sua mente e certamente será mais versátil e flexível pra enfrentar suas dificuldades, conseguirá ver ângulos diferentes de uma mesma situação. Caso contrário seus obstáculos serão gravados de uma maneira supervalorizada por um fenômeno da memória chamado RAM (Registro Automático de Memória). Formando, assim, zonas de conflitos, chamadas na Pscologia Multifocal de janela killer (por esse nome já da pra se ter uma idéia). As janelas killer são pequeníssimas áreas do córtex cerebral e nelas estão arquivadas nossos traumas, fantasias, fantasmas, crises, fobias, ciúmes, sentimentos de inveja, baixa auto-estima, timidez, complexo de inferioridade, de ser perfeito, entre outras coisas. Pra se ter idéia, o volume de ansiedade ao entrarmos em uma janela killer é tão grande que BLOQUEIA o acesso a milhares de outras janelas, impedindo que o 'Eu' encontre informações para construir pensamentos e idéias inteligentes. As janelas killer (ou zonas de conflitos), travam ou bloqueiam os códigos da inteligência, a lucidez, o raciocínio esquemático, a serenidade, a sabedoria, a racionalidade humana. Fazendo com que as escolhas de quem tem um trauma ou experiência não superados sejam, no mínimo, questionáveis.
Por outro lado, temos as janelas light que contêm as experiências de segurança, solidariedade, tolerância, generosidade, os prazeres, autoconfiança, auto-estima, a capacidade de se colocar no lugar dos outros. As janelas light, ao contrario das killer, promovem os códigos da inteligência. Essas janelas da memória são um território de leitura em um determinado momento existêncial (momentos do dia-a-dia, da vida). O seu desafio (e o meu) é abrir o máximo de janelas em um determinado momento gerando respostas lúcidas e coerentes. Entretanto, quando estamos raciocinando e entramos em uma janela killer, as experiências doentias que existem nela geram um volume de ansiedade tão grande que bloqueia o acesso às demais janelas. E assim, reagimos instintivamente, sem realmente pensar de modo inteligente, esquemático e criativo. Passamos a pensar instinto, proteção, de modo frio. Produzimos respostas irracionais, agressivas e débeis. Por exemplo se uma pessoa vê um raio caindo  e não interpretar o código da autocrítica fazendo-se saber que este é um fenômeno natural e filtrar o estímulo estressante (susto) que o raio pode causar, o raio deixará de ser apenas um fenômeno natural e passará a ser um fenomeno sobrenatural, será associado a um deus ou um monstro, gerando superstições, traumas e dogmas. E toda vez que um raio cair, sua janela killer será aberta e sua ansiedade, angustia, susto ou medo será extremamente valorizado por sua mente e o que seria naturalmente um raio passa a ser um 'monstro' ou 'deus'.  Parafrasiei e complementei Augusto Cury, 2008, 'O código da inteligência', pag 34. 

Só há uma maneira de amenizar tudo isso e é treinar e aguçar os códigos da inteligência. Por exemplo se você desenvolve o senso da autocrítica não dará um valor sobre-humano sobre as palavras, imagens ou opiniões de certas pessoas. Eu, Vinícius, por exemplo, descobri que desenvolvi o código da resiliência. 'Vinicius, o que é isso?!'. Vamos recorrer ao Google:  A resiliência é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico. Pode- se dizer ainda que a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém depara com um contexto de tomada de decisão entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer.Essas decisões, propiciam forças na pessoa para enfrentar a adversidade. Assim entendido, pode-se considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.

Ok? Podemos continuar? Então, eu de algum modo, desenvolvi a capacidade de superar certas adversidades e sempre continuar tentando. E esse é só um dos vários códigos que poderiam e deveriam ser desenvolvidos por nós (carisma, altruísmo, autocrítica, debate de idéias, intuição criativa). Pois então, se de um modo científico, pudermos explicar como as feridas são feitas em nós, é esse o modo, essa janelinha no córtex cerebral. Mas então supondo que a ferida se cure e fique somente a memória do que aconteceu, essa memória é a cicatriz e a questão lá em cima feita pelo Panda Po, não foi respondida ainda. 'E as cicatrizes?'. Bom eu diria que as cicatrizes são as marcas necessárias pra lembrarmos o que passamos, mas agora sem dor, sem medo de que algo toque naquele lugar, porque agora já não dói. E então eu, Vinícius, respondo a pergunta do pandinha: as cicatrizes são marcas que nos lembram que ali houveram feridas, mas elas se curaram e estão ali não como trauma, mas como lembrança de que passamos por dores, superamos e pudemos prosseguir com nossas vidas de forma saudável.

Só mais uma coisa, sabendo disso tudo pense bem quando estiver tomando deciões e fazendo escolhas, não use suas feriadas como base, tenha a cicatriz como referência sim, mas não como ponto principal. Aguce sua capacidade intelectual, autocrítica, inteligente e criativa. São esses códigos que vão fazer você analisar o que realmente é relevante.


Agradeço a leitura (:
Vinícius Frade

3 comentários:

  1. Pegar um trecho de Kung Fu panda e dissertar..... tinha nem um DIDI passando na Globo p vc ver esse dia não ? ou um dog p vc brincar? hahahahaha

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  2. Que ótima dissertação vendo esse filme em 2022 e tendo a consciência de tudo isso . parabéns .

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